segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Haiti é logo alíi...



No dia 12 de janeiro de 2010 o mundo se voltou para a América Central, mais precisamente, para um país cuja capital é real, Porto Príncipe. A geografia do Haití é favorável ao turismo, se fosse o caso, com um vasto litoral, penínsulas, golfos, montanhas e planícies costeiras. Não seria ali o Jardim do Éden ou a Atlântida perdida?! Mas a natureza é implacável, pois é ali também que estão as Placas Tectônicas responsáveis pelos terremotos e que se reflete no desprezo sofrido pelo povo antes e depois da revolução pela independência do país, em 1804 A base econômica é a agricultura; a indústria ocupa apenas 20% da economia e os serviços, 50%. Fazendo as contas, até que esse país poderia ter uma vidinha razoável, não? As coisas nunca foram assim. Por isso mesmo, o manto podre do silêncio escondia o Haiti de nós, a comunidade internacional, e mesmo antes do fatídico 12 de janeiro, discutíamos o sexo dos anjos, fazíamos conferências falidas sobre o meio ambiente, e víamos com assombro e desdenhe as enchentes intermináveis no Brasil, com seus milhares de desabrigados, que até hoje não têm para aonde ir... Essa é outra história triste.

Bem, a vida segue e o Haiti é logo ali...
E as pessoas começam a tratar desse assunto como se fosse a novela das oito racista e tolerada:
- Eu fiz um trabalho na escola sobre o Haiti.
-Foi? E quanto você tirou?
- Sei lá, nem me lembro.
Noutras conversas:
- Os africanos, coitados, sofrem, viu!
- Como assim, africanos?!
_ Olhe aí, você não viu o terremoto no Haiti, na África.
- Mas. o Haiti é na América.
-Poxa! Mas lá tem tantos pretinhos! Igualzinho a África.
São inúmeras as indagações. O interessante é que nós, brasileiros, somos vizinhos desse país, e muitos de nós, sequer, sabemos de sua localização geográfica...

E as ajudas estão chegando, voluntários – soldados de toda parte do mundo, com seus fuzis e com suas torturas e com seus interesses nacionais próprios; e os programas jornalísticos tendenciosos, tudo bombando.
Mas, não esqueçamos de que somos descendentes desses haitianos – temos a mesma história de colonização, a única coisa que fez a diferença foi a carta de Pero Vaz de Caminha, onde ele cita. " aqui em si plantando tudo dá". (o Haiti não tem esse potencial?!)A natureza reclama no Haiti. Em 12 de janeiro de 2010, levantou toda a poeira que estava escondida ou mascarada, fazendo com que as nações desenvolvidas deixem seus serviços burocráticos e inúteis para falar da tragédia haitiana; mesmo quando suas secretárias diga a todo instante: "Senhor, isto não foi agendado, Sua agenda de 2011 já está pronta, como vou fazer..." Um grito, um tremor ou um incômodo?!
O Haiti é logo ali...

No coração do mundo abalado e estranhamente arrependido (?!!!!) simbolizado pelas levas crescentes de famílias brancas européias surgiu, repentinamente, o interesse na adoção de crianças negras haitianas - seria uma mera questão de fígados, pulmões, rins ?! – sem brutalidades – no Brasil, todo mundo sabe, essas crianças não são bem vindas, lembra-nos que somos majoritariamente afro-descendentes; queremos esquecer –

... na adoção de crianças negras haitianas, pode ser o começo de uma nova concepção ou o fim de uma velha concepção. Mas como dizia Raul Seixas "eu devia tá contente".

Por que isso não me alegra, não me comove, não me deixa aliviada ?!!!!!!!!!
Talvez porque o Haiti é logo ali...

Autora: Maria Luíza Colaboração: Claudio Pinho.

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